A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA A CRIANÇA
por: RedatorAutora: DA SILVA, Amanda Eliza Costa Pereira.
RESUMO
O presente artigo visa analisar a importância do brincar no desenvolvimento e aprendizagem na educação infantil. Tem como objetivo conhecer o significado do brincar, conceituar os principais termos utilizados para designar o ato de brincar, tornando-se também fundamental compreender o universo lúdico onde a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, aceita a existência dos outros, estabelece relações sociais, constrói conhecimentos, desenvolvendo-se integralmente, e ainda os benefícios que o brincar proporciona no ensino-aprendizagem infantil. Ainda este estudo traz algumas considerações sobre os jogos, brincadeiras e brinquedos e como influenciam na socialização das crianças. Neste sentido, o objetivo central deste estudo é analisar a importância do brincar na educação infantil, pois segundo os autores pesquisados, este é um período fundamental para a criança no que diz respeito ao seu desenvolvimento e aprendizagem de forma significativa. Desta forma, este estudo proporcionará uma leitura mais consciente acerca da importância do brincar na vida do ser humano, e em especial na vida da criança.
Palavras-chave: Brincar, aprendizagem e desenvolvimento infantil, educação infantil.
ABSTRACT
This article aims to analyze the importance of play in the development and learning in early childhood education. Aims to know the meaning of the play, conceptualizing the main terms used to describe the act of playing, also becoming essential to understand the playful universe where the child communicates with itself and the world, accepts the existence of other sets social relationships, build knowledge, developing fully, and yet the benefits that playing provides the children’s education and learning. Although this study provides some considerations about the games, games and toys and how they influence the socialization of children. In this sense, the main objective of this study is to analyze the importance of play in early childhood education, as the authors surveyed, this is a crucial period for the child with respect to its development and learning significantly. Thus, this study will provide a more conscious reading about the importance of play in human life, especially in the child’s life.
Keywords: Playing, learning and child development, early childhood education.
1 INTRODUÇÃO
Brincar é uma importante forma de comunicação, é por meio deste ato que a criança pode reproduzir o seu cotidiano. O ato de brincar possibilita o processo de aprendizagem da criança, pois facilita a construção da reflexão, da autonomia e da criatividade, estabelecendo, dessa forma, uma relação estreita entre jogo e aprendizagem.
É fato, também que a importância do brincar chegou à lei, com o firme proposito de instrumentalizar os educadores que acompanham o cotidiano das crianças. Isso se evidencia não só no referencial Curricular Nacional para a Educação infantil, mas também em outros.
Para definir a brincadeira infantil, ressaltamos a importância do brincar para o desenvolvimento integral do ser humano nos aspectos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo. Para tanto, se faz necessário conscientizar os pais, educadores e sociedade em geral sobre a ludicidade que deve estar sendo vivenciada na infância, ou seja, de que o brincar faz parte de uma aprendizagem prazerosa não sendo somente lazer, mais sim, um ato de aprendizagem. Neste contexto, o brincar na educação infantil proporciona à criança estabelecer regras constituídas por si e em grupo, contribuindo na integração do indivíduo na sociedade. Deste modo, à criança estará resolvendo conflitos e hipóteses de conhecimento e, ao mesmo tempo, desenvolvendo a capacidade de compreender pontos de vistas diferentes, de fazer-se entender e de demonstrar sua opinião em relação aos outros. É importante perceber e incentivar a capacidade criadora das crianças, pois esta se constitui numa das formas de relacionamento e recriação do mundo, na perspectiva da lógica infantil.
Brincar é fundamental para a criança na medida em que há possibilidade de que ela se desenvolva, ao brincar elas testam suas habilidades, exercitam suas potencialidades e lidam com situações de interação social. A brincadeira permite a criança vivenciar o lúdico e descobrir-se a si mesmo. O ato de brincar possibilita o processo de aprendizagem da criança, pois facilita a construção da reflexão, da autonomia estabelecendo, desta forma, uma relação entre jogos e aprendizagem.
2 COMO AS CRIANÇAS BRINCAM
2.1 REFLEXÕES INICIAIS SOBRE O BRINCAR
O brincar já existia na vida dos seres humanos bem antes das primeiras pesquisas sobre o assunto: desde a antiguidade e ao longo do tempo histórico, nas diversas regiões geográficas, há evidência de que o homem sempre brincou. Mas, talvez, em decorrência da diminuição do espaço físico e temporal destinado a essa atividade, provocada pelo aparecimento das instituições escolares, pelo incremento da indústria de brinquedos e pela influencia da televisão, de toda a mídia eletrônica e das redes sociais, tenha começado a existir uma preocupação com a diminuição do brincar e a surgir um movimento pelo seu resgate na vida das crianças e pela necessidade de demonstrar sua importância em estudos e pesquisas.
É a respeito desses aspectos que se colocam aqui algumas questões sobre o brincar infantil. No estudo do jogo, da brincadeira ou do brinquedo, podemos observar:
- O comportamento das crianças (a brincadeira propriamente dita) no que concerne às atividades físicas e mentais envolvidas;
- As características de sociabilidade que o brincar propiciam (trocas, competição etc.);
- As atitudes, reações e emoções que envolvem os jogadores;
- Os objetos utilizados (brinquedos e outros).
Ao passar para uma interpretação dos dados fornecidos por essas observações, surgem diferentes perspectivas de análise do comportamento de brincar: afetivas, cognitivas, sociais, morais, culturais, corporais, linguística etc. Isso significa que podemos analisar o brincar infantil em diferentes enfoques:
- Sociólogo – a influência do contexto social em que os diferentes grupos de crianças brincam;
- Educacional – a contribuição do brincar para a educação, desenvolvimento e/ ou aprendizagens das crianças;
- Psicológico – o brincar como meio para compreender melhor o funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos indivíduos (no atendimento clínico, ele é utilizado basicamente para a observação das diversas condutas e para a recuperação, no caso de ludoterapia);
- Antropológico – a maneira como o brincar reflete em cada sociedade os costumes valores e a história das diferentes culturas;
- Folclórico – o brincar como expressão da cultura infantil por meio das diversas gerações, bem como das tradições e dos costumes nelas refletidos ao longo do tempo.
Para cada enfoque há várias formas de classificar o brincar. O privilegio a abordagem educacional com um forte acento nas questões culturais e antropológicas justamente para contribuir com a recuperação e preservação do patrimônio lúdico-cultural e o conhecimento da atividade lúdica infantil.
2.2 A PERSPECTIVA SOCIOINTERACIONISTA SOBRE O BRINCAR
Dentro da psicologia do desenvolvimento, a linha sociointeracionista representada, principalmente, por Piaget, Vygotsky e seus respectivos seguidores – é uma corrente teórica que defende a existência de uma relação recíproca entre indivíduo e meio: ao mesmo tempo em que a criança modifica o meio, ela é modificada por ele.
Em uma perspectiva mais ampla, a teoria piagetiana dá conta de maneira a qual as crianças aprendem o mundo, apropriam-se dos conhecimentos e integram com eles e com diferentes objetos e indivíduos. Esse desenvolvimento cognitivo ocorre em estágios, em cada um dos quais são desenvolvidas novas formas de pensar e de responder ao ambiente.
O ato de brincar acontece em determinados momentos do cotidiano infantil, neste contexto, Oliveira (2000) aponta o ato de brincar, como um processo de humanização, no qual a criança aprende a conciliar a brincadeira de forma efetiva, criando vínculos mais duradouros. Assim, as crianças desenvolvem sua capacidade de raciocinar, de julgar, de argumentar, de como chegar a um consenso, reconhecendo o quanto isto é importante para dar inicio à atividade em si.
O brincar se torna importante no desenvolvimento da criança de maneira que as brincadeiras e jogos que vão surgindo gradativamente na vida da criança desde os mais funcionais até os de regras. Estes são elementos elaborados que proporcionarão experiências, possibilitando a conquista e a formação da sua identidade. Como podemos perceber, os brinquedos e as brincadeiras são fontes inesgotáveis de interação lúdica e afetiva. Para uma aprendizagem eficaz é preciso que o aluno construa o conhecimento, assimile os conteúdos. E os jogos é um excelente recurso para facilitar a aprendizagem, neste sentido.
Carvalho (1992, p. 14) afirma que:
(…) desde muito cedo o jogo na vida da criança é de fundamental importância, pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está a sua volta, através de esforços físicos se mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a ter sentimentos de liberdade, portando, real valor e atenção às atividades vivenciadas naquele instante.
Podemos pensar que a brincadeira é nosso ponto de partida é a partir dela que iniciamos nossa fantástica relação com o mundo. A magia da brincadeira encanta a criança (e também o adulto), leva a outros mundos que lhe permite criar, recriar, concretizando em movimentos em ação.
É brincando também que a criança aprende a respeitar regras, a ampliar o seu relacionamento social e a respeitar a si mesmo e ao outro. Por meio da ludicidade a criança começa expressar-se com maior facilidade, ouvir, respeitar e discordar de opiniões, exercendo sua liderança, e sendo liderados e compartilhando sua alegria de brincar, em contrapartida, em um ambiente sério e sem motivações, os educandos acabam evitando expressar seus pensamentos e sentimentos e realizar qualquer outra atitude com de serem constrangidos.
Zanluchi (2005, p. 91) afirma que “A criança brinca daquilo que vive; estrai sua imaginação lúdica de seu dia-a-dia.”, portanto, as crianças, tendo a oportunidade de brincar, estarão mais preparadas emocionalmente para controlar suas atitudes e emoções dentro do contexto social, obtendo assim melhores resultados gerais no desenrolar da sua vida.
Para Vygotsky, citado por Baquero (1998), a brincadeira, o jogo são atividades específicas da infância, nas quais a criança recria a realidade usando sistemas simbólicos. E uma atividade com contexto cultural e social. O autor relata sobre a zona de desenvolvimento proximal que é a distância entre o nível atual de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver, independentemente, um problema, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da resolução de um problema, sob a orientação de um adulto, ou de um companheiro mais capaz.
Na visão de Vygotsky (1998) o jogo simbólico é como uma atividade típica da infância e essencial ao desenvolvimento infantil, ocorrendo a partir da aquisição da representação simbólica, impulsionada pela imitação. Desta maneira, o jogo pode ser considerado uma atividade muito importante, pois através dele a criança cria uma zona de desenvolvimento proximal, com funções que ainda não amadureceram, mas que se encontram em processo de maturação, ou seja, o que a criança irá alcançar em um futuro próximo. Aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida, é fácil concluir que o aprendizado da criança começa muito antes de ela frequentar a escola. Todas as situações aprendizado que são interpretadas pelas crianças na escola já têm uma história prévia, isto é, a criança já se deparou com algo relacionado do qual pode tirar experiências.
Vygotsky (1998, p.137) ainda afirma “A essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre o campo do significado e o campo da percepção visual, ou seja, entre situações no pensamento e situações reais”. Essas relações irão permear toda a atividade lúdica da criança, serão também importantes indicadores do desenvolvimento da mesma, influenciando sua forma de encarar o mundo e suas ações futuras.
Santos (2002, p. 90) relata que “(…) os jogos simbólicos, também chamados brincadeira simbólica ou faz-de-conta, são jogos através dos quais a criança expressa capacidade de representar dramaticamente.” Assim, a criança experimenta diferentes papéis e funções sociais generalizadas a partir da observação do mundo dos adultos. Neste brincar a criança age em um mundo imaginário, regido por regras semelhantes ao mundo adulto real, sendo a submissão às regras de comportamento e normas sociais a razão do prazer que ela experimenta no brincar.
De acordo com Vygotsky (1998), ao discutir o papel do brinquedo, refere-se especificamente à brincar de escolinha, brincar com um cabo de vassoura como se fosse um cavalo, Faz referência a outros tipos de brinquedo, mas a brincadeira faz-de-conta é privilegiada em sua discussão sobre o papel do brinquedo no desenvolvimento. No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual, o mesmo contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo ele mesmo uma grande fonte de desenvolvimento.
A criança se torna menos dependente da sua percepção e da situação que a afeta de imediato, passando a dirigir seu comportamento também por meio do significado dessa situação, Vygotsky (1998, p.127) relata que “No brinquedo, no entanto, os objetos perdem sua força determinadora, A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição em que a criança começa a agir independentemente daquilo que vê.” No brincar, a criança consegue separar pensamento, ou seja, significado de uma palavra de objetos, e a ação surge das ideias, não das coisas.
Nesse caso a brincadeira favorece o desenvolvimento individual da criança, ajuda a internalizar as normas sociais e a assumir comportamentos mais avançados que aqueles vivenciados no cotidiano, aprofundando o seu conhecimento sobre as dimensões da vida social.
Assim, seguindo este estudo os processos de desenvolvimento infantil apontam que o brincar é um importante processo psicológico, fonte de desenvolvimento e aprendizagem. De acordo com Vygotsky (1998), um dos principais representantes dessa visão, o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e/ou adultos. Tal concepção se afasta da visão predominante da brincadeira como atividade restrita à assimilação de códigos e papéis sociais e culturais, cuja função principal seria facilitar o processo de socialização da criança e a sua integração à sociedade.
2.3 AS IMPLICAÇÕES DO ATO DE BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Brincar, segundo o dicionário Aurélio (2003), é “divertir-se, recrear-se, entreter-se, folgar”, também pode ser “entreter-se com jogos infantis”, ou seja, brincar é algo muito presente nas nossas vidas, ou pelo menos deveria ser.
Segundo Oliveira (2000) o brincar não significa apenas recrear, é muito mais, caracterizando-se como uma das formas mais complexas que a criança tem de se comunicar consigo mesma e com o mundo, ou seja, o desenvolvimento acontece através de trocas recíprocas que se estabelecem durante toda sua vida. Assim, através do brincar a criança pode desenvolver capacidades importantes como a atenção, a memória, a imitação, a imaginação, ainda propiciando à criança o desenvolvimento de áreas da personalidade como afetividade, motricidade, inteligência, sociabilidade e criatividade.
Vygotsky (1998), um dos representantes mais importantes da psicologia histórico-cultural, partiu do princípio que o sujeito se constitui nas relações com os outros, por meio de atividades caracteristicamente humanas, que são meadas por ferramentas técnicas e semióticas. Nesta perspectiva, a brincadeira infantil assume uma posição privilegiada para a análise do processo de constituição do sujeito, rompendo com a visão tradicional de que ela é uma atividade natural de satisfação de instintos infantis. Ainda, o autor refere-se à brincadeira como uma maneira de expressão e apropriação do mundo das relações, das atividades e dos papéis dos adultos. A capacidade para imaginar, fazer planos, apropriar-se de novos conhecimentos surge, nas crianças, através do brincar. A criança por intermédio da brincadeira, das atividades lúdicas, atua, mesmo que simbolicamente, nas diferentes situações vividas pelo ser humano, reelaborando sentimentos, conhecimentos, significados e atitudes.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 27, v.01): O principal indicador da brincadeira, entre as crianças, é o papel que assumem enquanto brincam. Ao adotar outros papéis na brincadeira, as crianças agem frente à realidade de maneira não literal, transferindo e substituindo suas ações cotidianas pelas ações e características do papel assumido.
Zanluchi (2005, p.89) reafirma que “Quando brinca, a criança prepara-se a vida, pois é através de sua atividade lúdica que ela vai tendo contato com o mundo físico e social, bem como vai compreendendo como são e como funcionam as coisas,” Assim, destacamos que quando a criança brinca, parece mais madura, pois entra, mesmo que de forma simbólica, no mundo adulto que cada vez se abre para que ela lide com as diversas situações.
Portanto, a brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil na medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados. Nas situações em que a criança é estimulada, é possível observar que rompe com a relação de subordinação ao objeto, atribuindo-lhe um novo significado, o que expressa seu caráter ativo, no curso de seu próprio desenvolvimento.
3 A ATIVIDADE LÚDICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO
3.1 CONHECER AS CRIANÇAS POR MEIO DO BRINCAR
O educador pode, a partir da observação das atividades lúdicas, observar um diagnóstico do comportamento geral do grupo e do comportamento individual de seus alunos, descobrir em qual estágio de desenvolvimento se encontram as crianças, conhecer os valores, as ideias, os interesses e as necessidades de cada grupo, seus conflitos, problemas e potenciais. Se, porém, o que pretende é estimular o desenvolvimento de determinadas áreas ou promover aprendizagens específicas, o brincar pode ser utilizado como uma possibilidade de desafio cognitivo, desde que se escolham atividades adequadas.
É importante o educador definir, previamente, o espaço de tempo que cada atividade lúdica vai ocupar no dia a dia, os espaços físicos onde essas atividades se desenvolverão (dentro da sala de aula, no pátio ou em outros locais), os modos de acesso aos espaços e objetos, brinquedos ou outros materiais que tenham de ser providenciados.
Os estudos têm avançado e hoje se fala em “atitude lúdica”, isto é, a postura do educador com relação a todas as atividades propostas. Assumir uma atitude lúdica significa aprender e incorporar as linguagens expressivas das crianças e adotar essa postura em todos os conhecimentos e atividades.
Propondo um cominho pelo qual o educador possa conhecer a realidade lúdica do seu grupo de criança, seus interesses e necessidades, comportamentos, conflitos e dificuldades e que paralelamente constitua um meio de estimular o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, moral, linguístico e físico-motor e propiciar aprendizagens específicas.
3.2 ENSINO-APRENDIZAGEM ATRAVÉS DO BRINCAR NA INFÂNCIA
Na educação de modo geral, e principalmente na Educação Infantil o brincar é um potente veículo de aprendizagem, visto que permite, através do lúdico, vivenciar a aprendizagem como processo social. A proposta do lúdico é promover uma alfabetização significativa na prática educacional, é incorporar o conhecimento através das características do conhecimento do mundo.
Assim, Goés (2008, p. 37), afirma que:
(…) a atividade lúdica, o jogo, o brinquedo, a brincadeira, precisam ser melhorado, compreendidos e encontrar maior espaço para ser entendido como educação. Na medida em que os professores compreendem toda sua capacidade potencial de contribuir no desenvolvimento infantil, grandes mudanças irão acontecer na educação e nos sujeitos que estão inseridos nesse processo.
Contudo, compreender a relevância do brincar possibilita aos professores intervir de maneira apropriada, não interferindo e descaracterizando o prazer que o lúdico proporciona. Portanto, o brincar utilizado como recurso pedagógico não deve ser dissociado da atividade lúdica que o compõe, sob o risco de descaracterizar-se, afinal a vida escolar regida por normas e tempos determinados, por si só já favorece este mesmo processo, fazendo do brincar na escola um brincar diferente das outras ocasiões. A incorporação de brincadeiras, jogos e brinquedos na prática pedagógica, podem desenvolver diferentes atividades que contribuem para a aprendizagem das crianças.
Para Vygotsky (1998), o educador poderá fazer o uso de jogos, brincadeiras, histórias e outros, para que de forma lúdica a criança seja desafiada a pensar e resolver situações problemáticas, para que imite e recrie regras utilizadas pelo adulto.
Com isso, é possível entender que o brincar auxilia a criança no processo de aprendizagem. Ele vai proporcionar situações imaginárias em que ocorrerá no desenvolvimento cognitivo e facilitando a interação com pessoas, as quais contribuirão para um acréscimo de conhecimento.
Brincar não é apenas ter um momento reservado para deixar a criança a vontade em um espaço com ou sem brinquedos e sim um momento que podemos ensinar e aprender muito com elas. A atividade lúdica permite que a criança se prepare para a vida, entre o mundo físico e social. Observo, deste modo que a vida da criança gira em torno do brincar, é por essa razão que pedagogos têm utilizados a brincadeira na educação, por ser uma peça importante na formação da personalidade, tornando-se uma forma de construção de conhecimento.
3.3 O PAPEL DO EDUCADOR
Há ainda uma questão a ser abordada: como deve agir o educador diante do grupo? E durante o desenvolvimento das atividades lúdicas?
O educador precisa adotar algumas posturas a fim de alcançar mais eficazmente seus objetivos lúdicos, como veremos a seguir:
- Possibilitar tempo, espaço e materiais para as crianças brincarem livremente;
- Escutar o que as crianças têm a dizer, fortalecendo seus posicionamentos e autoestima;
- Fomentar a autonomia durante os conflitos, para estimular o desenvolvimento emocional e o autoconhecimento das crianças.
- Possibilitar ações físicas que motivem as crianças a ser mentalmente ativas.
- No caso de brincadeiras dirigidas, propor regras, em vez de impô-las.
Assim, as crianças ganharam a oportunidade de participar de sua elaboração. As crianças se desenvolvem social e politicamente e devem ter possibilidades de questionar valores morais. As brincadeiras e jogos em grupos dão inúmeras chances de criação e modificação de regras, verificação de efeitos, comprovação de resultados.
- Proporcionar a troca de ideias para chegar a um acordo sobre as regras. Isso ajuda as crianças a se descentrar de si mesmas, escutar os outros e coordenar pontos de vista diversos (processo cognitivo que contribui para o desenvolvimento do pensamento lógico).
- Incentivar a responsabilidade de cada criança quanto ao cumprimento das regras, motivar o desenvolvimento da iniciativa, agilidade e confiança em dizer o sente e pensa, e prever a criação de sanções, o que torna as crianças mais inventivas.
- Permitir o julgamento de qual regra deve ser aplicado a cada situação como forma de promover o desenvolvimento da inteligência.
Durante as brincadeiras espontâneas, o educador, para realizar um diagnóstico, precisa se colocar como observador, papel nem sempre simples. A postura do educador como pesquisador implica um envolvimento afetivo, fato pelo qual não é possível ser totalmente objetivo. É saudável discriminar, nesse processo de observação e escuta o que é da criança e o que é do educador que se espelha nela.
Respeitar a ressignificação que a criança dá às regras das brincadeiras espontâneas é fundamental para conhecer as realidades de cada grupo.
O educador pode intervir eventualmente durante as brincadeiras e os jogos, mas é desejável que deixe a atividade fluir entre as crianças.
Já nos jogos dirigidos, é preciso ser claro e breve na hora de explicar as regras das atividades propostas, embora a postura do educador possa variar nos pontos a seguir:
- É interessante participar da atividade no começo, a fim de exemplificar a explicação verbal. Mas a participação deve ser evitada quando as crianças já conhecem a brincadeira ou já conseguem brincar sozinhas. Nesse caso, o papel do educador é orientar o desenvolvimento da atividade e, mas ainda, propor desafios, colocando dificuldades progressivas para avançar nos propósitos de promover o desenvolvimento integral ou de fixar aprendizagens.
- É aconselhável propiciar momentos em que as crianças possam se expressar após as atividades, tal como uma roda em que elas conversam sobre o jogo ou a brincadeira, ou desenham, pintam ou representam.
Ao adotar tais posturas, o educador alcança o seu papel como educador lúdico e criativo, que compartilha o processo de desenvolvimento de seu grupo.
Educar significa, portanto propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação.
Por isso o educador é a peça fundamental nesse processo, devendo ser um elemento essencial. Educar não se limita em repassar informações ou mostrar apenas um caminho, mas ajudar a criança a tomar consciência de si mesmo, e da sociedade. É oferecer várias ferramentas para que a pessoa possa escolher caminhos, aquele que for compatível com seus valores, sua visão de mundo e com as circunstâncias adversas que cada um irá encontrar. Nessa perspectiva, segundo o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 30, v 01).
Educar é acima de tudo a inter-relação entre os sentimentos, os afetos e a construção do conhecimento. Nesse processo educativo a afetividade ganha destaque, pois acreditamos que a interação afetiva ajuda mais a compreender e modificar o raciocínio do aluno. E muitos educadores tem a concepção que se aprende através da repetição, não tendo criatividade e nem vontade de tornar a aula mais alegre e interessante, fazendo com que os alunos mantenham distantes, perdendo com isso a afetividade e o carinho que são necessários para a educação.
A criança necessita de estabilidade emocional para se envolver com a aprendizagem. O afeto pode ser uma maneira eficaz de aproximar o sujeito e a ludicidade em parceria com o professor e aluno, ajuda a enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. E quando o educador dá ênfase as metodologias que alicerçam as atividades lúdicas, percebe-se um maior encantamento do aluno, pois se aprende brincando.
4 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
4.1 A CRIANÇA APRENDE A BRINCAR
O brincar é uma das formas mais comuns do comportamento humano, principalmente durante a infância. Infelizmente, até a relativamente pouco tempo, o brincar era desvalorizado, destituído de valor a nível educativo. Com a evolução dos tempos, atravessa-se uma mudança na forma de como se percepcionar o brincar, e a sua importância no processo de desenvolvimento da criança.
Atualmente, verifica-se uma maior preocupação com a formação das crianças, tanto os pais como educadores, procuram a melhor forma de as tornarem responsáveis, equilibradas, etc., contudo, não é raro esquecerem-se que o brincar pode ser uma “ferramenta” para que a criança desenvolva essas qualidades. O brincar é uma condição essencial para o desenvolvimento da criança. Através do brincar, ela pode desenvolver capacidades importantes como atenção, a memória, a imitação, a imaginação. Ao brincar, exploram e refletem sobre a realidade e a cultura na qual estão inseridas, questionando as regras e papeis sociais. O brincar potencia o desenvolvimento, já que assim aprende a ser. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção. Através da brincadeira, as crianças ultrapassam a realidade, transformando-a através da imaginação.
Dar brinquedos de diferentes materiais e tipos também é recomendável. Por isso, nada de entupir a menina só com bonecas e chegar com um carrinho em todos os aniversários do menino. As crianças precisam experimentar de tudo, cada brinquedo vai despertar o interesse e a curiosidade de alguma forma. O importante é o brincar, e não o brinquedo.
4.2 O BRINCAR NO UNIVERSO DA CRIANÇA PEQUENA
A concepção de brincadeira é uma noção historicamente construída. A partir de uma perspectiva sociocultural, compreendemos, reiterando Wajskop (1995), que a brincadeira constitui uma atividade social infantil, desenvolvida por crianças entendidas enquanto sujeitos históricos e sociais, marcados pelo meio social em que se desenvolvem, mas que também o marcam. Nessa perspectiva, a brincadeira é uma produção cultural da sociedade humana e não algo biologicamente determinado.
De acordo com Brougére (2002), aprende-se a brincar, é um dos momentos essenciais para aprendizagem são as interações entre a mãe e o bebê. Ainda segundo o autor, é brincando que a criança apropria-se daquilo que ele designou de “cultura lúdica”: um conjunto de regras e significações que permitem tornar a brincadeira possível. Nessa perspectiva, a brincadeira produz a cultura que ela própria necessita para existir. Brougére (2002) afirma ainda que a “cultura lúdica” não é transferida para a criança, uma vez que ela é também sua coprodutora: a “cultura lúdica” é apenas parcialmente uma produção da sociedade adulta, pois também inclui a reação das meninas e dos meninos à produção cultural que é, de certa maneira, a eles imposta.
O universo da criança é o brincar, é através da brincadeira e do movimento que se dá o desenvolvimento cognitivo e afetivo para a criança. É de grande importância para os pequenos que a aprendizagem ocorra de modo lúdico para que sua criatividade aconteça, cabe ao educador criar perspectivas para que o brincar tenha fins na aprendizagem como um todo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir de pesquisas realizadas referentes ao tema deste artigo fica evidente que a criança aprende enquanto brinca. O bom do brincar é que, às vezes somos vencedores e, outras, perdedores. Então, na verdade, todos acabam ganhando. Brincar envolve prazer, tensões, dificuldades e principalmente, desafios. De alguma forma a brincadeira se faz presente e acrescenta elementos indispensáveis ao relacionamento com outras pessoas. Assim, a criança estabelece com os jogos e as brincadeiras uma relação natural e consegue extravasar suas tristezas e alegrias, angustias entusiasmos, passividades e agressividades, é por meio da brincadeira que a criança envolve-se no jogo e partilha com o outro, se conhece e conhece o outro.
O brincar não significa apenas recrear-se, antes pelo contrário, é a forma mais completa que a criança tem de comunicar consigo mesma e com o mundo. A criança precisa ter tempo e espaço para brincar. É importante proporcionar um ambiente rico para a brincadeira e estimular a atividade lúdica no ambiente familiar e escolar.
É brincando que a criança aprende o que mais ninguém lhe pode ensinar. É dessa forma que ela se estrutura e conhece a realidade. Além de estar a conhecer o mundo, e a si mesma. Ao brincar a criança se desenvolve integralmente, passa a conhecer o mundo em que está inserida. Portanto, o brincar não é apenas uma questão de diversão, mas uma forma de educar, de construir e de se socializar.
Sendo assim, é através da atividade lúdica que a criança se prepara para a vida, assimilando a cultura do meio em que vive, integrando-se nele, adaptando-se às condições que o mundo lhe oferece e aprendendo a competir, cooperar com os seus semelhantes e a conviver como um ser social.
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