A mediação pedagógica na formação de leitores na educação infantil: desafios e perspectivas

por: Redator

Autor: MARINHEIRO, Cícero Rubens de Lima.

Resumo
A mediação pedagógica tem se mostrado essencial na formação de leitores na educação infantil, uma etapa crucial para o desenvolvimento de habilidades de leitura que influenciam o aprendizado ao longo de toda a vida escolar. Este artigo investiga os desafios enfrentados pelos educadores ao desempenhar esse papel e as perspectivas para tornar a prática mais eficaz, considerando o contexto da escola brasileira. A partir de referenciais teóricos, discute-se como estratégias mediadoras podem potencializar o interesse das crianças pelos livros e a formação de hábitos de leitura. Destaca-se a importância de ambientes alfabetizadores, da formação docente continuada e do uso de metodologias ativas no processo de mediação.

Palavras-chave: mediação pedagógica, formação de leitores, educação infantil, leitura, alfabetização.


Introdução

A formação de leitores é um dos principais desafios enfrentados pela educação infantil no Brasil. É nessa etapa que se estabelecem as bases para o letramento e a alfabetização, processos que, embora distintos, caminham de forma integrada para garantir o domínio da leitura e da escrita. No entanto, formar leitores vai além de ensinar a decodificação de palavras. Trata-se de despertar nas crianças o prazer pela leitura, a curiosidade pelas histórias e o hábito de buscar nos livros respostas e reflexões sobre o mundo que as cerca. Nesse sentido, a mediação pedagógica desempenha um papel central, pois é por meio da interação entre educador, criança e texto que se constrói um aprendizado significativo e contextualizado.

O presente artigo tem como objetivo discutir os desafios e as perspectivas da mediação pedagógica na formação de leitores na educação infantil, partindo de uma análise teórica fundamentada em autores brasileiros que estudam o tema. Argumenta-se que a prática mediadora eficaz requer não apenas o conhecimento técnico dos educadores, mas também a criação de um ambiente alfabetizador e o acesso a materiais de qualidade. Além disso, busca-se compreender como as políticas públicas e os programas educacionais podem contribuir para superar os obstáculos enfrentados na formação de leitores no país.


Desenvolvimento

A mediação pedagógica na educação infantil pode ser entendida como um processo dinâmico e interativo, no qual o educador assume o papel de facilitador da aprendizagem, promovendo o contato das crianças com textos de diferentes gêneros e suportes. De acordo com Kleiman (1995), a mediação é essencial para que os indivíduos atribuam significados aos textos que leem, considerando suas vivências, interesses e conhecimentos prévios. No caso das crianças pequenas, esse processo ocorre em um contexto de descoberta, em que a curiosidade e a criatividade são estimuladas por meio de atividades lúdicas e interativas.

Entretanto, os desafios da mediação pedagógica começam com a formação inicial e continuada dos professores. Muitos educadores chegam às salas de aula sem o preparo adequado para lidar com as demandas específicas da formação de leitores. A ausência de práticas formativas voltadas para o trabalho com a literatura infantil, por exemplo, é um fator que limita o potencial mediador dos professores. Como destaca Solé (1998), a leitura requer estratégias que vão além da decodificação e incluem a interpretação, a análise crítica e o diálogo com o texto. Tais competências, no entanto, precisam ser desenvolvidas primeiramente pelos mediadores, que devem servir como modelo para as crianças.

Outro aspecto relevante é o acesso limitado a acervos literários de qualidade nas escolas. Muitos centros de educação infantil no Brasil não possuem bibliotecas ou espaços adequados para a leitura, o que dificulta a implementação de práticas mediadoras eficazes. Segundo Zilberman (2003), a presença de um ambiente alfabetizador é um dos principais fatores que influenciam a formação de leitores. Esse ambiente deve incluir não apenas livros, mas também revistas, jornais, textos digitais e outros materiais que despertem o interesse das crianças e as conectem ao mundo da leitura.

Além disso, a mediação pedagógica na educação infantil enfrenta o desafio de atender a um público diverso, com diferentes níveis de acesso à leitura em casa. Enquanto algumas crianças já chegam à escola familiarizadas com livros e histórias, outras têm seu primeiro contato com a leitura no ambiente escolar. Essa desigualdade exige que os educadores sejam capazes de adaptar suas práticas para atender às necessidades de cada criança, garantindo que todas tenham oportunidades iguais de se desenvolverem como leitoras. Segundo Freire (1987), o processo de alfabetização deve ser um ato de inclusão e emancipação, permitindo que os indivíduos se apropriem da linguagem como instrumento de leitura do mundo.

Dentre as estratégias mediadoras que podem ser adotadas na educação infantil, destaca-se a leitura compartilhada, em que o educador lê para as crianças, utilizando entonação e gestos que tornam a narrativa mais envolvente. Essa prática não apenas apresenta os livros às crianças, mas também lhes ensina a apreciar o ritmo, a estrutura e a musicalidade da linguagem escrita. A dramatização de histórias, a exploração de imagens e a criação de textos coletivos são outras metodologias que enriquecem o processo de mediação. Conforme Abramovich (1997), contar e ouvir histórias são atividades que despertam emoções e criam vínculos afetivos, tornando o aprendizado mais significativo.

O papel das políticas públicas na formação de leitores também merece destaque. Programas como o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) têm contribuído para o acesso a materiais de leitura nas escolas, mas ainda há muito a ser feito para garantir que todos os educadores e crianças tenham acesso a recursos de qualidade. Investimentos em formação docente, ampliação de bibliotecas escolares e incentivo à participação das famílias no processo de leitura são algumas das ações necessárias para fortalecer a mediação pedagógica na educação infantil.

Por fim, é fundamental considerar as possibilidades oferecidas pelas tecnologias digitais na mediação pedagógica. Plataformas online, aplicativos de leitura e livros digitais podem complementar o trabalho do educador, oferecendo às crianças novas formas de interagir com os textos. No entanto, é importante que o uso dessas ferramentas seja integrado às práticas pedagógicas de forma planejada, garantindo que elas sejam realmente utilizadas como instrumentos de aprendizagem e não apenas como entretenimento.


Conclusão

A mediação pedagógica é um elemento indispensável para a formação de leitores na educação infantil, pois é por meio dela que as crianças desenvolvem o interesse e a competência para interagir com os textos. No entanto, a efetividade dessa prática depende de uma série de fatores, incluindo a formação dos educadores, a disponibilidade de recursos e o apoio das políticas públicas. Apesar dos desafios, há inúmeras possibilidades de aprimorar a mediação pedagógica, tornando-a mais inclusiva, interativa e significativa. Assim, é possível garantir que todas as crianças tenham a oportunidade de se tornarem leitoras críticas e criativas, capazes de utilizar a leitura como ferramenta para compreender e transformar o mundo.


Referências

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1987.

KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes, 1995.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.

ZILBERMAN, Regina. A leitura e o ensino. São Paulo: Contexto, 2003.

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