O papel da contação de histórias no desenvolvimento da linguagem oral e escrita na educação infantil

por: Redator

Autor: MARINHEIRO, Cícero Rubens de Lima.

Resumo
A contação de histórias desempenha um papel central no desenvolvimento da linguagem oral e escrita na educação infantil, contribuindo para a formação de habilidades fundamentais para a aquisição da leitura e da escrita. Este artigo busca discutir as contribuições dessa prática pedagógica para o desenvolvimento integral das crianças, a partir de um embasamento teórico que destaca a relevância da interação verbal e da criatividade no processo de construção do conhecimento. Argumenta-se que a contação de histórias, ao promover o engajamento emocional e cognitivo, oferece um espaço privilegiado para o aprendizado significativo e contextualizado.

Palavras-chave: contação de histórias, linguagem oral, linguagem escrita, educação infantil, desenvolvimento infantil.


Introdução

A educação infantil constitui a base para o desenvolvimento integral da criança, abrangendo aspectos cognitivos, emocionais, sociais e linguísticos. Nesse contexto, as práticas pedagógicas que envolvem a linguagem têm um papel essencial, pois é por meio dela que as crianças se comunicam, constroem significados e estabelecem relações com o mundo ao seu redor. A contação de histórias, enquanto prática pedagógica, tem sido amplamente reconhecida por sua capacidade de promover o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Conforme apontam Abramovich (1997) e outros autores, a narrativa oral é uma ferramenta poderosa para estimular a imaginação, o pensamento crítico e a criatividade nas crianças. Este artigo busca explorar como a contação de histórias pode ser utilizada para potencializar o aprendizado na educação infantil, enfatizando sua relevância para a aquisição de habilidades linguísticas fundamentais.


Desenvolvimento

A contação de histórias, enquanto prática pedagógica, transcende a simples transmissão de conteúdos. Ela cria um ambiente rico em linguagem, no qual as crianças têm a oportunidade de interagir verbalmente, explorar novos vocábulos e compreender a estrutura narrativa. Segundo Abramovich (1997), o ato de contar histórias desperta nas crianças o interesse pela palavra falada e escrita, promovendo a construção de um vínculo emocional com a literatura. Essa interação não apenas contribui para o desenvolvimento da linguagem oral, mas também serve como base para a compreensão e produção de textos escritos. É por meio da escuta atenta e da participação ativa na narrativa que as crianças desenvolvem habilidades de interpretação, síntese e organização do pensamento.

Na educação infantil, a contação de histórias assume um papel mediador entre a criança e o conhecimento. Conforme os estudos de Vygotsky (1991), o aprendizado ocorre por meio de interações sociais, e a linguagem é o principal instrumento de mediação nesse processo. O educador, ao contar histórias, cria um espaço de interação no qual as crianças podem participar ativamente, fazendo perguntas, compartilhando ideias e relacionando as narrativas com suas experiências de vida. Essa dinâmica favorece não apenas o desenvolvimento da linguagem, mas também a formação de competências socioemocionais, como a empatia e a capacidade de se colocar no lugar do outro.

Além disso, a contação de histórias estimula o interesse pela leitura e pela escrita ao introduzir as crianças a diferentes gêneros textuais e estruturas narrativas. Livros ilustrados, por exemplo, oferecem um suporte visual que complementa a narrativa oral, facilitando a compreensão e enriquecendo a experiência de aprendizado. Segundo Bettelheim (2004), as histórias infantis têm o poder de abordar questões complexas de forma simbólica, permitindo que as crianças compreendam e processem aspectos de sua realidade emocional e social. Essa conexão entre as histórias e a vida cotidiana das crianças é fundamental para tornar o aprendizado significativo e contextualizado.

No entanto, para que a contação de histórias atinja seu pleno potencial pedagógico, é necessário que os educadores estejam preparados para explorar todas as possibilidades dessa prática. Isso inclui a seleção cuidadosa de histórias que sejam adequadas à faixa etária e ao contexto cultural das crianças, bem como a utilização de estratégias que estimulem a participação ativa, como a dramatização e o uso de recursos visuais e sonoros. Conforme destaca Zilberman (2003), o ato de contar histórias é uma arte que requer sensibilidade e conhecimento por parte do educador, pois envolve não apenas o domínio técnico da narrativa, mas também a capacidade de criar um ambiente acolhedor e envolvente.

Outro aspecto relevante é o impacto da contação de histórias no desenvolvimento da escrita. A familiaridade com a estrutura narrativa, adquirida por meio da escuta atenta e da participação nas histórias, facilita a transição para a produção textual. As crianças que têm contato frequente com narrativas orais demonstram maior facilidade para organizar suas ideias, estruturar frases e utilizar vocabulário diversificado em suas produções escritas. Essa relação entre oralidade e escrita é amplamente discutida por Teberosky e Colomer (2003), que destacam a importância de práticas integradas de linguagem para o desenvolvimento pleno das competências linguísticas.

Apesar dos inúmeros benefícios da contação de histórias, sua implementação nas escolas enfrenta desafios. Entre eles, destaca-se a necessidade de formação continuada para os educadores, que muitas vezes não possuem o preparo necessário para explorar todo o potencial dessa prática. Além disso, as condições estruturais das escolas, como a falta de acervos literários adequados, podem limitar o acesso das crianças a histórias de qualidade. Nesse sentido, políticas públicas voltadas para a promoção da leitura na educação infantil são essenciais para garantir que todas as crianças tenham a oportunidade de se beneficiar dessa prática pedagógica.


Conclusão

A contação de histórias é uma prática pedagógica que contribui significativamente para o desenvolvimento da linguagem oral e escrita na educação infantil. Ao proporcionar um ambiente rico em linguagem e interação, ela estimula habilidades linguísticas, cognitivas e socioemocionais essenciais para a formação integral das crianças. Contudo, para que seu potencial seja plenamente explorado, é fundamental que os educadores sejam preparados e valorizados, e que as escolas disponham de recursos adequados para a promoção dessa prática. Assim, a contação de histórias pode se consolidar como uma ferramenta indispensável para a educação infantil, contribuindo para a formação de leitores e escritores críticos e criativos.


Referências

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. Aprender a ler e a escrever: uma proposta construtivista. Porto Alegre: Artmed, 2003.

VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

ZILBERMAN, Regina. A leitura e o ensino. São Paulo: Contexto, 2003.

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